segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Uma maçã para o professor.






Seguinte é esse: eu sou professora, né? Hoje recebi uma porrada de mensagens (GRATA A TOD@S!). Carinho de tudo quanto é lado. É massa. Ainda que afastada da sala de aula, o ego fica massageado quando uma criaturinha recente ou de outros carnavais se lembra de você.
Sobre ser professora, um caos em minha cabeça. Não quero mais, embora saiba das saudades e dos méritos que esta profissão me tatuou. Eu fui ser professora porque gostava de ler. E, em sala, sempre gostei de pensar que havia um horizonte beeem além daquele quadro branco ou negro. Porque o conteúdo mais importante NÃO É o do livro.
Eu acredito nessa utopia de relações humanas mais justas; de conhecimento partilhado; de empoderamento das classes populares; de intervenção social. Para que serve um aluno sem luz? São estudantes os que tive ao meu lado, me chateando, me entediando, me descontrolando e, acima de tudo, em um misto legítimo de paixão e indiferença,  me desafiando a entender que nem toda gente é igual.
Estes meninos e meninas que estudaram comigo me mostraram de duzentas mil formas o que é a diversidade política-cultural-religiosa-sexual e, além disso, qual o papel da educação formal nesse troço que chamamos sociedade.
Eu não acredito nessa escola que ou adestra meninos para o ENEM ou mantém meninos recebendo a bolsa-família. Escola tinha que ser sinônimo de pesquisa, tinha que permitir o acesso ao conhecimento sistematizado e tinha que produzir conhecimento.
Não é possível que esses garot@s saibam tanto de sexo, internet, política, música, preconceito, futebol, sentimentos e que não consigam transformar isso tudo em uma reflexão/ intervenção sobre as opções do mercado de trabalho, a desigualdade social e racial brasileira ou os prejuízos econômicos e ambientais do sistema capitalista, por exemplo.  
Lendo agora fica parecendo que quero formar militantes esquerdistas. Mentira. Não quero formar ninguém e "esquerda partidária" eu já nem sei o que significa. Quero informar, isso sim. E quero ser informada também. Saber quem são estes seres que ora brilham de entusiasmo, ora afiam lâminas de descaso. É. É isso. E isso vale tanto para os estudantes quanto para os professores, afinal, estou falando é de criaturas que não seguem o script do nascer, crescer, reproduzir-se (ou não!) e morrer. Gente cria, né? Além de crer, inventa. É por isso que ainda estou (estamos?) aqui: caçando outras formas de estudar – pesquisar, aprender, ler, discutir, odiar, amar – a vida.
Às minhas colegas e “colegos” de profissão, um salve.
Aos dirigentes governamentais, uma banana.
Aos estudantes (morro dizendo isso, a-luno é sem luz!!!), um vínculo.
À sociedade, please, presta mais atenção na escola, seja ela particular ou pública. Poucos professores e poucos estudantes querem estar lá de verdade.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

E que gosto têm os sentimentos?

   


Tem gente que funciona pelo cheiro. São aqueles que  impregnam de fragâncias o cotidiano: "Poxa, Lapidus me lembra tanto minha irmã!"; "Ah, a dama-da-noite é a cara de minha mãe!"; "Este cheiro de maconha...hum...tem vagabundo por aqui." Para outros, a senha é a visão. Lugares, pessoas e cores são facilmente codificados. "Rapaz, não posso ver Fulano sem lembrar de Beltrano!"; "Olhe, qunado vejo o mar, só lembro daquele dia, da gente."; "Vixe, nem quero ver este vestido. Só me lembra aquele tempo."Há os que precisam tocar. São os que cresceram, mas continuam dizendo "Deixa eu ver!" ao mesmo tempo em que estendem as mãos em direção ao objeto do desejo. Basta sentir a aspereza do velcro para recordar daquele incidente da sexta série, na frente de todos os colegas, naquela sala ginasial.
   Eu me seduzo pelo ouvido (e qual mulher estaria imune a este canal de paixões?). Minha premissa é esta: fica mais fácil viver se me visto de trilhas sonoras. Por exemplo:"Bom dia, sua senha e RG, por favor."; "Você chegou atrasada, estava marcada para 09:40 e chegou 09:48."; "Vocês tem que entender que o INSS faz tudo baseado em leis. O resultado não sai da cabeça do médico, é a lei que diz o que deve ser feito." Quando ouço estes comandos na perícia médica, não dá outra, a lembrança é de Música Urbana, da Legião: "Entendo seu problema, mas não posso resolver. É contra o regulamento, está bem aqui, pode ver.". Por outro lado, não tem como ouvir Pé com pé", do grupo Palavra Cantada sem lembrar de minha sobrinha Laura e de minha amiga Olívia, duas plenas crianças.
     Falta o paladar, né? Como são as pessoas que degustam a vida? Bem, sempre acreditei que a minha memória afetiva fosse essencialmente musical, mas venho sendo visitada por algumas insistentes metáforas culinárias. "Geleia de uva tem gosto daquele abraço fraterno em um fim de tarde grapiúna."; "Molho de pimenta tem gosto dos almoços de domingo, na casa de tia Maria.". "Vinho? Ai... vinho tem gosto de comunhão lenta, bem cuidada, seja com Cristo, seja com outrem."; "Chocolate tem gosto daqueles domingos com serotonina inexisente." e assim por diante.
    Essa queda pelos sabores tem me surpreendido porque sempre fui de publicar o meu distanciamento culinário. Na verdade, eu tenho pavor de cozinha, sempre acho que as minhas experiências estão aquém do sabor ideal, afinal, já fiz bolo de chocolate com pó de guaraná pensando que era Nescau, enfim...toooodo um alheamento. Receio a cozinha como receio a dança. Ambas as atividades exigem um posicionamento corporal. Acho que daí advém o meu medo. Não é fácil compreender e vivenciar esta interligação mente-corpo. Platão deixou marcas e eu temo responder: que sabor tem as atuais experiências vivenciadas no período prozac? Recentemente a renovação da minha licença médica foi novamente negada e, embora o psiquiatra, a psicóloga, o médico do trabalho e o psicólogo do CEREST digam o contrário, de acordo com o julgamento das regras previdenciárias, já estou apta ao trabalho docente.
    Ok.  É muito difícil se ver confrontada com um negócio tão particular como a sua saúde mental. A perícia médica do INSS tem um clima intimidador. Sabe o medo de você estar mentindo para si mesmo? Eu confesso: tive que fazer um esforço para entender que ali, orientando aquela decisão, estava A Lei. Dura lex, sed lex, né? Tentava me convencer disso quando a doutora resolveu sair do script e me perguntou: "Mas, se há tantos problemas em ser professora,  por que você escolheu essa profissão?" Puta-que-pariu. Me perdoem a falta de compostura linguística, mas...foi um processo. Me diga, como responder a esta pergunta sem parecer insana? Porque é isso. Para ser gente hoje é preciso ser iron woman. É foda entender que sua sensibilidade está sendo compreendida como fragilidade ou desequilíbrio. Aliás, não é foda. Não me dá prazer nenhum verificar isso.
     Acho que a doutora não se deu conta, mas a sua pergunta foi certinho na minha ferida."Aquele gosto amargo ficou na minha boca por mais tempo e (...) fez casa nos meus braços". É, Renato Russo sabia das coisas Afinal, qual o problema em ser professora, Larissa? Bem, primeiro preciso dizer que, quando criança, eu não queria ser professora. Queria algo bem mirabolante, como ser cientista ou astronauta. Depois, na adolescência, queria ser jornalista. O fato é que é o meu desejo era trabalhar com informação e conhecimento, pois sempre gostei de ler e de refletir sobre o mundo.  Quando fui fazer o vestibular, "soube" que precisava fazer um curso noturno e que me garantisse emprego imediato. Conjugando estes critérios com o gosto pela leitura, acabei optando por Letras. Não quero posar aqui de "A ressentida do Jaçanã".  Sabe aquele povo mal-amado que usa a internet (face, blogs e afins) para dizer como o mundo é feio, triste e injusto? Às vezes eu sou assim, mas quase sempre busco coletivizar as queixas, afinal não quero ser a "pobre-mulher-que-não-cresceu-e-é-incompreendida. Enfim, não sou Paulo Coelho nem aqui na China, reconheço as complexidades, Joyce em um tuíte, jamé!
     Larissa-professora. R.I.P.? Não. Eu ainda sou professora. Esta noite, como em muitas outras, sonhei com a sala de aula, com a rotina do ensino-aprendizagem, com o riso e com o choro. E na minha boca o gosto está instável. Estou sem salário do município há dois meses, porque o INSS me mandou de volta e eu não me mandei. A prefeitura não pode me conceder desvio de função porque o médico do trabalho diz que estou inapta. Enfim. Como é não ter salário? Depois de tanto tempo sendo funcionária-padrão, eu já não sabia quão desconcertante é não poder participar das farras coletivas ou não poder pagar um curso de balé para a sobrinha ou não poder pagar o condomínio e etc e etc. Tenho andado muito. Tanto pra vender cocada, quanto pra economizar o dinheiro do coletivo. Tem dias em que desejo uma revista, um sorvete, coisas simples assim e me vejo visitada por "um beijo travoso de umbu cajá", meu amigo Alceu.
     E o que dinheiro tem a ver com sabor? É possível comprar o gosto dos sentimentos? Eu sou professora. Ainda. Mas quero estar na fase de transição, sabe? Vendo cocada e nem sei cozinhar, mas vejo e admiro minha mãe misturando tudo quanto é sentido diante do caldeirão de doce. Não sei se vou sair dessa realizando peripécias culinárias. Mas sei que quero sair dessa. Gengibre e cacau com pimenta são meus sabores prediletos.Ardidos. Marcantes. Eu gosto. Ficar sem salário, me preparar para deixar de ser professora. Sai rasgando. Medo deve ter sabor de jiló amargo. Mas felicidade, essa coisa tão abstrata quanto necessária, deve ter gosto de queijo macio. Eu não quero ser adolescente e acreditar no "pra sempre" mas eu quero ser uma profissional que acredita no que faz. Mesmo que seja só no momento presente. Mesmo que depois eu tenha que voltar atrás e dizer: "Aiiiiiiii, como viver sem a escola?". Mesmo assim. Eu quero tentar. Esperança, eu sei. Tem gosto de pêtit gateau. O bichinho é caro, nem todo mundo sabe fazer gostoso, mas, quando bem preparado, te dá um prazer sem nome. Eu quero isso. O sabor de uma vida com pazeres e dores ainda virgens. Vou, assim, batizando-os enquanto me batizo e aprendo. Um dia, a cozinhar. O outro, a dançar. Quem sabe hoje?


 

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Depressão é para os fracos.

"Ôxe, menina, deixa de tomar esse remédio, quero ver o que acontece!"
                                                
"Eu, é porque sou forte mesmo, porque já passei por tanta coisa nessa vida..."
 
"E, afinal, o que tu quer mesmo?"
 
"Deus é mais, fica aí, parada, nessa lerdeza."
 
"Não, não, não chora não. tem gente olhando, ó!"
 
"Ah, me diz aí qual é essa boquinha de ficar sem trabalhar, que eu também quero."
 
"Por causa da escola? Mas tu é besta mesmo, viu? Vai empurrando, vai!"
 
"Que nada, você é uma pessoa tão querida, vem cá, vem."
 
"Sim, mas tu tem como se sustentar?"
 
"E o médico, ele acha o que?"
 
"Falou com o psiquiatra?"
 
"Falou sobre isso com o psicólogo?"
 
"E o atestado, trouxe? E a xérox?"
 
"Vai passar, entrega nas mãos de Deus, tenha fé!"
 
"Eu também já me senti assim. Acho que todo professor passa por isso."
 
"Casa, emprego, estudou, o que mais tu quer? Não entendo."
 
"Como assim, não quer viver? Ah...se você soubesse o que é a vida..."
 
"Como assim, não quer viver? E você acha que tem esse direito?"
 
"Olha, se tu tivesse namorando, isso não estava acontecendo."
 
"Doença de rico, hein?"
 
"Hum,,,entendi, mas, por que mesmo? O que motivou?"
 
"Por que você não ped eum desvio de função? Ou uma licença sem vencimento?"
 
"Depressão? Ah...(risos)...sei..."
 
"Que nada, Larissa, mete as caras e enfrenta."
 
"É. É isso. Boa sorte na batalha."
 
"E aí, tu tá sumida, tudo bem?"
 
"E aí, só nas farras, hein? Eu vejo no face."
 
"Vai arrumar uma lavagem de roupa suja, tem que ter um problema real para se preocupar."
 
"Não, não tô dizendo que tu é doida não, ôxe!"
 
"Isso é falta de oração."
 
"Mas rapaz, a vida é tão bonita!"
 
"Tá melhor?"
 
" E vai ficar boa, né?"
 
"Qualquer coisa, viu?"
 
"Você? Com isso? Logo você? Nem combina, uma pessoa tão pra cima."
 
"E o outro médico, o que disse?"
 
"Trouxe o laudo? E as receitas?"
 
"Boa tarde, me conta, o que te trouxe aqui?"
 
"Um bom banho de descarrego. Toma pra tu ver!"
 
"Tem certeza que não está pronta para voltar?"
 
"Olha, você é quem sabe. Essa decisão só você pode tomar."
 
É. Eu queria ser forte. Depressão é para os fracos.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Um Dom Quixote por um Home Theater, quem topa?

      A propaganda do cinema em casa me parece uma coisa altamente sedutora. Imagens em alta definição, som digital e conforto pleno. Eu sei que é tolice, porém sempre tenho aquela sensação de que o proprietário de um home theater é alguém, por essência, feliz. A comodidade de quem, em casa, está alheio aos conflitos do mundo é um alento fascinante, mas o bendito intervalo entre o que sentimos e o que é real é um problema e persiste. Eu até gostaria, mas não dá para esquecer a minha condição de aventureira ficcional. Até a Bíblia registra: é próprio da condição humana o afeto pela criação. Demiurgos frustrados, desejamos o infinito, embora apenas consigamos nos debruçar em uma janelinha do factual. 
   Não sou cinéfila, confesso, mas a ideia do cinema tem me cativado por esses dias. Sabe quando você pensa que um determinado acontecimento é tão cru(el) que parece mentira? Quando você fica imaginando roteiro e trilha sonora para as indecências da vida.
É assim que eu vejo:
Uma moça, 21 anos.
Um moço, 20 anos.
Uma filha, 04 anos.
Uma outra moça, a loira, idade despercebida.
Uma relação a três sem o consentimento mútuo.
A mãe dele conta.
A moça conhece e resolve empregar o que chama de amor-próprio.
Ele se zanga e zanga com ela.
Ela não tinha o direito de exercer o pecado do próprio amor.
Os bens, a partilha.
Ela, a filha.
Ele, a passagem para São Paulo.
No meio do caminho, um home theater, um celular e um passarinho trocados por uma casa. Ele.
No meio do caminho, uma criança corta o pé no quintal e chora a noite, velando madrugadas de ausências. Ela.
É assim que eu vejo.
     Uma bela história, não? Um bom produto comercial, talvez sucesso de público e de crítica. E se eu acrescento que ela é doméstica e ele tem como profissão a condição de marido de doméstica? E se eu acrescento que ele tinha um home theater mas ela não tinha geladeira? E se eu acescento : eles eram casados.
     O que há de ficcional nisso aí? Na condição de quase sã, consumidora de prozac e afins, venho colecionando repertórios de belas e dolorosas histórias de gente. Gente rica, pobre, asceta, frívola, gorda, magra, religiosa, ateia, tudo junto, porque não há graça se não há contradições. Eu não sei o que significa não ter água gelada em casa. (Ora, estamos no inverno e eu nem bebo água gelada!). Também não sei o que significa ter home theater (Ah, nem televisão eu tenho, quanto mais caixinhas de som pelos cômodos da casa, ideia mais fútil!).
      Final de romance é sempre chato, mas não quero fazer aqui a autópsia dessa relação-roteiro de cinema da moça de 21 com o moço de 20.  Quando senti essa história-estória fiquei lembrando muito de Elis cravando verdades com "As aparências enganam aos que odeiam e aos que amam, porque o amor e o ódio se irmanam na fogueira na paixão" ("As aparências enganam, composição lindíssima de Tunai e Sérgio Natureza, veja aqui http://www.youtube.com/watch?v=51JSEEoia-Y ). Fiquei pensando nisso, como somos igualmente atraídos pelo que amamos e pelo que odiamos. A essa altura, você já deve, inclusive, ter lembrado daquele ditado popular, comum entre os presumíveis namoricos: "Quem desdenha, quer comprar".
      É isso. Narrar esses moços (pobres moços, se eles soubessem...) fez com que eu me confrontasse com os meus "ódios de estimação" (Roubei de Heloísa Prieto, lindíssima falando sobre Dom Quixote, aqui:  http://www.youtube.com/watch?v=rEdbKEHCvAI)  . Sou mais eu com minhas Dulcineias do que eu sem sentir. Risos. E eu sinto pra caralho, velho! Muitas vezes transito entre a letargia e a letargia, mas quase sempre eu estou é pulsando, on the road na veia ou o velho "ouça no volume máximo" dos discos da Legião. Esses dias, por exemplo, eu passava pela praça do esse, em Itabuna, e avistei um grupo de pós-adolescentes cantando "É só você que tem a cura de insistir nessa saudade que eu sinto de tudo o que eu ainda não vi".
     A gargalhada íntima foi imediata. É sempre engraçado quando temos a oportunidade de nos revisitarmos após 15 anos ou 15 dias ou 15 minutos. E este versinho da Legião, eu particularmente a-d-o-r-o, justamente porque brinca com a dualidade passado-futuro, uma quase obsessão em minha dulce vita. Garçom, um Déjà vu embalado pra viagem, please:
      Ela estava com insônia. Poderia pensar em milhões de coisas, mas o amor é sempre uma opção rentável, afinal as pessas compram revistas de simpatias "amorosas"; consomem novelas, livros e filmes "de amor"; curtem e compartilham textos "sobre o amor" no face...enfim..amor dá dinheiro. Foi por isso - e não por gostar pra caramba daquele cara - que ela pensou em sua "vida amorosa" e daí chegou à conclusão masoquista: no quesito "amor", sua vida se resumia a repertórios de saudade. Assim, no plural, bem brega mesmo. Tudo o que lembrava era pretérito. As viagens. O almoço. O abraço. O sorriso. Tudo pretérito mais-do-que-Imperfeito. E, infelizmente, esta fala não era do seu eu-lírico. Enfim, é adolescente e é brega dizer essas coisas, mas, se ela fosse uma moça inteligente entenderia que isso significaria o término.     
       Mooooço, passa a conta e fecha a régua, que eu acho é graça de tanto amor. E tenho é ódio, lógico. Queria cinema. Queria histórias de amor que durassem mais do que 90 minutos. Queria fogos de artifício, príncipe encantado no cavalo branco, daminhas de bochecha rosada e tudo mais. E outra: em minha casa. Queria em minha casa o romance que aprendi como se fosse meu. E aí, senhoras e senhores, fudeu, né? Não existe. Não existe este romance de cinema porque, na vida real, eu tenho que aceitar a expulsão do Éden e me conformar com os clichês: a criança ainda lamenta o talho no pé, é noite e não há mercúrio-cromo a não ser o tempo.

 

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Quanto tempo?

Quanto tempo duram as coisas?
Um poema? 2 minutos para ser feito ou 40 dias de inquietude?
Uma relação sexual? 15 minutos acontecendo ou 1 ano se preparando?
Um mestrado? 2 anos cursando ou 2 anos curando a ressaca acadêmica?
Uma refeição? 3 horas de preparação ou 15 minutos de engolida rápida?
Uma iniciação religiosa? 3 segundos, quando a água toca a fronte ou 3 segundos, quando se nega a vontade de comer carne de porco?
As coisas duram muito, no sentido de intensidade.
As coisas duram muito, no sentido de tempo.
As coisas duram muito, no sentido de importância.
É claro que você está esperando. Eu vou falar.
Uma história de amor? Quanto tempo dura?
Os 4 minutos de encantamento à primeira vista?
Os 2 segundos do primeiro beijo, ainda sem língua?
Os 4 meses de troca de e-mails, posts no face, telefonemas e mensagens no celular antes do encontro primeiro?
Os 57 minutos de realização da cerimônia do casamento?
Os 7 anos antes da famosa crise?
Acho que devo parar por aqui. Não sei quanto tempo dura uma história de amor. Mas sei que toda a minha vida pode ser amor (como é, aliás) e sei que não quero parar na crise. Nem dos 7 anos, nem dos 7 dias, nem dos 7 minutos.
As coisas, eu não sei, mas na minha história de Larissa-pessoa não quero acatar as determinações de Chronos, estou é catando as invenções de Kairós. Assim seja.

sábado, 28 de julho de 2012

Fazemos FaXadas.

Eu trabalho com a imagem e a imagem é nada, sede que é tudo. Sou do tempo do Xou Da Xuxa. Escrevi carta e esperei sorteio. Assisti Caverna do Dragão, Smurfs e Turma da Pesada. Queria ser Lark, a heróina de limousine rosa com piscina. Mais tarde,na hora do almoço, comia sanduíche com os X-Men, após ter rezado a Salve Rainha na Congregação das Irmãs da Sagrada Família. Nas escadas, rezar uma Ave-Maria, para fortalecer a vocação enquanto lembrava da força de Tempestade. Depois foi o tempo das coletividades. Mamonas Urbanas. Toda a sorte de desgarrados, inclusive Xispto, meu amigo imaginário. No dia em que todos filaram aula, nos corredores de Rio Novo, eu fiquei na sala chorando. Que medo das coletividades! Sem masculino, nem feminino, usava as roupas paternas para evocar uma filiação. Havia as madrugadas com cheiro de propagandas e festas. Eu lia Caros Amigos e assistia Otávio Mesquita. O sono. O sono sem fim de quem vê as cores e se emoldura nelas. Acho que sempre soube das movências. Os alicerces do magistério. Palhaço, psicólogo, assistente social, médico, policial,preparador físico, mestre. O que consegui ser?
Eu vivo da imagem. Eu sou essa moça que nunca será a mulher na sala de espera.Cadê o meu lençol sujo de sangue das noites de núpcias? Deveria ter guardado. Ou tirado foto, ao menos. Estes têm sido dias difíceis. Na renovação de minha licença médica, a perícia do INSS indicou, por duas vezes consecutivas, que não tenho "incapacidade laborativa". Eu fiquei confusa. Afinal, estou doente? Tenho algo que realmente me impede de trabalhar como professora?
Eu sou imagem. Recolho cheiros,texturas,movimentos, trilhas sonoras,cores,formas. Escolho o que me cabe e enceno. Sempre espetáculo, né doutora? Sempre a necessidade da persona. Mas eu não estou fingindo um medo de ficar viva ou uma sensibilidade extrema às desigualdades sociais. Eu realmente calculo se a queda será definitiva e realmente não entendo porque é normal essa família que, sem trabalhar com reciclagem,visita todas as noites o lixo do meu condomínio.
A imagem é tudo e sede é nada. Aliás, a gente não quer só comida. O gostosinho de barriga sarada da novela das 7 OU a empresa que pinta em sua fachada: "Fazemos FaXada". O candidato que usa o mesmo nome do pai e tem como slogan "a renovação" OU a moça que usa havaianas pra tirar onda de alternativa da mesma forma que usa um Louboutin para tirar onda de rycah? Qual deles te convence mais? Parabéns para você que consegue viver sem o medo de sair à rua e ter ânsia de choro. Parabéns para você que consegue se equilibrar. Parabéns para você que consegue fazer das imagens um relicário e não uma bula.
Olha, doutora do INSS, eu não sei que imagem eu lhe passo. Eu sei que não lhe apresento uma perna inchada ou um ferimento na cabeça. O que sirvo, neste banquete, é essa confusão de imagens que me atormenta a cabeça a todo instante. É irônico, mas eu, que fui uma péssima aluna em Desenho Geométrico, só penso em como arrumar essas imagens. É como se eu visse o mundo por meio de ângulos. Sempre recortando e entriangulando. Ou enquadrando. Ou encirculando. A Beira-Rio, na quinta à tarde, vai se diminuindo por conta própria, até chegar à esquina em que vejo a sombra da ponte perpendiculando o rio - o ponto extremo da dor. Da mesma maneira, daquelas meninas com farda de escola particular eu só consigo extrair o corte dos cabelos longos e lisos e luzeados. Bem iguais e bem diferentes dos cabelos amarrados daquela moça de short curto que descansa em frente à loja de 1,99 - o ponto extremo da dor.
Eu sou do tempo das imagens. Bem à noitinha, quando vou dormir, fecho os olhos e elas ficam. Sei que não estou de licença médica porque sou preguiçosa. Sei que não quero ganhar dinheiro "no mole". Sei que quero resolver essa situação logo (beeem mais rápido do que a psicóloga acha que consigo, inclusive). A única coisa coisa que não sei é se conseguirei ser, novamente, professora - o ponto extremo do amor.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Os doidos não usam cuecas (eu vi).

(TomZé reúne os meus fragmentos de gente criança e de gente grande) Existe algo assim no teatro, né? "Eles não usam black-tie". Será Gianfrancesco Guarnieri? Nelson Rodrigus? Ou Glauber Rocha, gritando comigo para que eu grite com o mundo? Estou serena hoje. Nada de gritos. "Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?". Não, não estou embarcando nessa de me sentir mal por ser hipócrita. Para viver é preciso. Eu realmente preciso passar pela rua e ignorar aquele homem dormindo ao lado do Banco do Brasil. Eu não posso me chocar porque é meio-dia e ele dorme. Eu não tenho nenhuma responsabilidade se ele está embriagado ou cheirado. Eu não tenho nada a ver com aquele homem a não ser a minha condição feminina. Me Jane, you Tarzan. Ele é um homem e sua masculinidade me afeta porque eu vejo o pênis dele. Quantas vezes eu já vi homens vagando pelas ruas? Os loucos (risos). Os que não estão na nossa sintonia. Os que não penteiam os cabelos, não tomam banho, não pensam na roupa especial daquele primeiro encontro e...principalmente...os que exibem, displicentemente, sua genitália. Ele estava deitado, dormindo, com o zíper aberto e...sem cueca. Achei isso brutal. Porque nós não somos livres. Ninguém venha me alegar democracia e demais princípios liberais que eu não tenho mais paciência para esse lero. Nós temos algusn lampejos de liberdade. Até aí, ok. Mas, mostrar o pênis e a vagina? Isso não. É tabu dos brabo, mas aquele homem (louco?) contrariava este tabu. Nós, homens e mulheres do século XXI, temos uma relação engraçada com a nudez. No carnaval e na praia pode. Na hora de fazer ousadia,deve. Mas...na rua...do nada...se for mulher, é puta; se for homem, é tarado. Essa é uma lógica que classifica o diferente como o bárbaro, não é? Temos medo da invasão do que nos é estranho? Estranho? Billie Jean? Ah fia, conta outra! A nudez (castigada, pra variar!!!) não nos é estranha. No máximo externa, porém nem nisso eu acredito. Minhas convicções estão enraizadas mesmo é nas coisas de toque, calor, carinho, aconchego, cheiro no pescoço. Coisas de corpo. Mas eu deveria ter prestado mais atenção às aulas de Biologia. Raramente consigo entender como pode ser orgânico este estranhamento que sinto de maneira tão nítida, esta tristeza doída que me faz parecer o pequeno príncipe sozinho no deserto. Leio e releio os tratados sobre serotonina, dopamina. Quero saber quais são as coisas que fazem bem. Alimentos que devo ingerir para os tais dos neurotransmissores funcionarem e eu não sentir essa vontade absurda de abandonar o meu sorriso. Eu sou nova ainda. Acabo de fazer 32 anos e da obrigatoriedade de ser feliz... eu tenho medo. Tem gente que tem medo de morrer. Eu tenho medo de ficar viva. Faço um esforço enorme para ignorar a nudez do louco e a minha nudez. A nudez de princípios e a nudez de valores. Poderia ter nascido em outra época? Um canto onde as pessoas se frustrassem menos? Não sei. Sei que não estou sozinha nessa seara de achar uma contradição a nudez do "louco" chocar e a da mulher-fruta vender revista. Mas, mesmo assim, é doloroso ter uma consciência absoluta da perenidade e, ainda assim, ter um ar blasé. Um texto triste e desnorteado, este. Gil fez 70 anos. Me oriento é pela vontade grande de amar. Tá, tudo bem que as estrelas ajudam, mas o meu eixo está sempre pendendo para o desequilíbrio do amor. A merda é que é um amor coletivo. Risos. A merda é que não adianta o prozac, nem os quadrinhos, nem o banho de mar, nem a torta de chocolate. As baixarias cotidianas tem trazido névoas pros meus olhos. Essa coisa de epitáfio. O meu, não tenho dúvidas, é o de ter morrido de amor. Eu pulo ao som de bichos escrotos, mas na hora do “vamovê”, minha dor é piegas. Eu, que tenho a alcunha de doida, a diferente que não quer tchu nem tcha...mesmo sabendo que não estou sozinha...não sei lidar com isso. Este é um texto triste, desnorteado e um pedidor de ajuda. Marromeno como o Marcelo, Marmelo, Martelo. É isso. Não sei mais ser a gente grande que sabe ignorar o homem nu ao lado do banco do Brasil. É isso.

sábado, 12 de maio de 2012

A mulher perfeita.

"Você a conhece. Certamente ela já cruzou o seu caminho ou o de algum amigo seu. Tudo nela é tão milimetricamente calculado que até o descuido tem a sua razão de ser. Ela tem casa própria,nível superior, independência financeira e até gosta de futebol!! A mulher perfeita não precisa do homem. Ela é o próprio homem." Este trecho apareceu, assim,"do nada" em minhas memórias afetivas e cognitivas...Não sei vocês, mas eu, particularmente, considero meus heterônimos todas as diversas maneiras de perceber e me posicionar sobre os fatos do mundo. E, principalmente, as diversas maneiras de me mostrar ao mundo. Cada um escolhe sua couraça e vai pro embate/abate cotidiano. A psicóloga me disse que era preciso tê-las. Eu sei. Eu reconheço essa necessidade. Mas, porém, todavia, contudo...como separar essas máscaras? Como discernir o que em mim é ficção e o que é realidade? O "tale" do real é inapreensível. Uma coisa é reclamar da vida; outra, bem diferente, é reclamar de viver. Quantas vidas eu tenho? Numa abordagem nada espiritualista, quantas vezes eu consigo me forjar de outros e outras? Cadê a tal da física quântica para explicar essa chaga perene? Vivo cavando densidades na alma. Vivo explicando a mim que a doçura é imbricada ao amargor, mas os questionamentos não cansam de arrendar meus espaços.Poxa, Fernando Pessoa,porque metafísica há de ser o meu sobrenome? Por que lembro disso? Ando tomada de ficção esses dias. Pensando, pra variar, em mil personagens estranhos a mim e em minha vida com mil larissas. Sabe Funes, o memorioso? Pretensão das maiores querer me igualar, mas é marromeno assim. Convoco Borges para me defender. Lembro-me dos fragmentos de sentidos/sentimentos que controem o meu percurso. Tanto os reais quanto os...ah...vou resistir ao maniqueísmo de discernir o que é real e o que é imaginado. O Grande Outro, Lacan? Flexiona aí, análise sintática em pauta... Análise semântica em pauta... Quais sujeitos me habitam? De quantos eu-líricos eu possso dispor? E...vamos esculhambar logo o negócio: quais machos e quais fêmeas me habitam?
(os bares tem uma forma interessante para distinguir os homens das mulheres...) Um exemplo:eu tinha 14 anos. Feira Cultural da Escola, festa de encerramento.Cidadezinha nada bucólica do interior. Auditório lotado. Tímida até a alma, me posiciono estrategicamente no canto, lugar perfeito para poder ver o mundo sem ser vista. Após as apresentações, um garoto tímido até a alma - perdoem-me os românticos, mas não lembro o nome dele... - sobe ao palco e, por trás das cortinas, pega o microfone e dana a falar milhões de coisas loucas, como "eu sempre fui apaixonado por ela"; "uma menina linda" e sei mais lá o que de loucuras a la novela do sbt... Tudo bem que eu estava surtada nesse dia,havia saído de casa toda trabalhada na moda periguete...com blusa justa, short de "um palmo", meião até o joelho e..srsrsr..salto alto...Senhor Deus, pena que a máquina digital ainda não havia sendo inventada nesses primórdios ipiauenses!! Enfim...a declaração de amor era realmente para mim e o mancebo garboso estava naquele exato momento descendo do palco, atravessando toooodo o auditório e...merda..vindo em minha direção. Sim, a cena foi bem "mar vermelho": o menino avançava (será que havia pedras em sus pés? Eu nunca vi três minutos tão com cara de uma hora!) e as pessoas iam lhe dando passagem, ao mesmo tempo em que gritavam "beija, beija, beija!". Evidentemente que, a essa altura, meu rosto já havia experimentado todas as cores do arcoíris e eu ainda não sabia o que fazer. Além de pensar que aquele menino era louco, eu me convencia e me justificava: "Nunca olhei para ele e vice-versa!!!!!". Não adiantou. Ele realmente havia chegado até mim. Risos. Os ecos daquelas palmas e "beija!" ainda ecoam em meu disco rígido, mas a pessoa aqui teve a reação mais infantil que se poderia ter: dei um belo de um empurrão no moço e saí correndo do auditório, para, logo depois, aproveitar a baixa dos holofotes e pirulitar da escola. Um acontecimento, sem dúvida. Demorei um tempo para digerir a vergonha e a resenha dos colegas e professores. O menino, naturalmente, se nunca havia falado comigo, desse dia em diante, passou a me ignorar. Eu acho que depois de alguns anos ainda tive a cara-de-pau de pedir desculpas a ele, mas, definitivamente, naquele dia enterrei todas as chances de encarnar a linda donzela e de ter um príncipe encantado nessa vida... Volto à questão inicial: me habitam homem e mulheres. Mulheres como a mãe negra de 30 anos, que aparenta 50 e, de cabelos escovados, cata a beleza na porta da USEMI numa sexta-feira à tarde, empunhando como distintivo a flor de crepom que outrora recebera. Mulheres como a adolescente de short curto que vende lotomania na avenida princesa isabel com um sorriso tão artificial quanto o silicone que ela deseja colocar para, em futuro não tão distante, ser clone da Valesca Popozuda. Mulheres como aquela de idade indefinida, com reflexos no cabelo e navalhas na alma, pilotando o carro com ar-condicionado e air-bag.Eterno flutuar. Mulheres como a professora de 50 anos (quase 70), cavando a sua seputura nas visitas à DIREC,feliz por ter descoberto a promoção da Natura, rindo alto ao mesmo tempo em que, desajeitadamente, escolhe e coloca na bandeja todas as suas minúsculas aflições. Homens como o de 30 anos, representante comercial, vestido de tantas indefinições quanto os argumentos com que vende sua alma, tomando a cerveja do entardecer naquele posto de ponto de estrada. Homens como o moleque de 06 anos, sem nome e sem play-station, sem vestibular ou dia das mães, com um olhar que expressa 25 anos (jura que ele só tem 06?), destilando seu ódio em estado puro e concentrado, cônscio de seu papel no mundo:matar ou morrer. Homens como aquele da bicicleta,que tanto pode ter 20, quanto 50 anos, interessado no recorte triangular que o short de malhação desenha entre as pernas da menina. Homem feliz por ser viril. Homens como o playboy aquém.. O senhor de si das festas, o recanteado, que tem por ofício encarcerar olhares e suspiros alheios. Homens como o jovem suburbano. Cantor de rap ou sertanejo light ou arrocha. Quase sempr enegro, quase sempre corpo. Unicamente. Homens como o pai de família. 50 e lá vai fumaça. Não retalha, não rompe, não instaura caos algum. Seu últim moviemnto raivoso foi desejar as nádegas da "secretária do lar" menor de idade. Nunca leu Hegel, mas sabe bem conduzir a manada familiar. Chega de tantos homens. Chega de tantas mulheres. O que eu sinto é isso: que el@s me habitam por usucapião e já nem sei que máscara prefiro. Talvez a do senhor, talvez a da senhora. Me tranvisto de tant@s e fico meio atordoada. Todo dia. Sabe quando você não se contenta com o "ou"? Sabe quando você sabe que não deve blefar, que o jogo já está perdido, mas a necessidade de experimentar (sem temer naufragar, como diria Adriana Calcanhoto)...essa necessidade é mais forte em mim. É por isso que escolher as máscaras sociais mais adequadas me dói. É por isso que eu não tenho paciência para saber se é autoajuda ou auto-ajuda. É por isso que..merda...eu não sei o que fazer quando me visitam, simultaneamente, os fantasmas de Paulo Coelho e Hilda Hist.Como eu sou usuária da droga da felicidade, fica tudo massa. Panicat careca sendo notícia;Cachoeira em Brasília;lixão itabunense no Fantástico. Tô nem aí e nem tô chegando. Mas,tem horas em que a condição de desapercebimento me é impossível. Aí num tem Costa Lima, num tem maturidade, num tem prozac, num tem porra nenhuma. Nessas horas a pergunta inevitável é: se, no frigir dos ovos,é preciso sempre fingir, como você escolhe sobreviver? Em tempos de fogo, ser água. Em tempos de seca, ser chuva. Em tempos de ódio, ser amor. Em tempos de medo, ser coragem. Valei-me Marx, Francisco de Assis e Fagner. Valei-me que nesses dias de dores múltiplas, meu desejo é apenas não ter tanto trabalho com as contradições. Não ter que escolher entre o simplismo de ser a donzela que lê Paulo Coelho ou a puta que lê Hilda Hist. Não quero tergiversar, Dilma! Não quero ser mulher-macho à medida que me aproximo de ideais dito masculino como fazer ousadia na primeira noite ou raspar o cabelo. O lance acaba sendo sexo. Sexo ou sexista? Ah...essa é uma longa história das minhas (nossas?) dobras identitárias.Meu desejo, minha pulsão primeira é essa: conseguir esquadrinhar estes recantos íntimos chamados emoções e ter consciência de que, no jogo dos paladares que me toma a cada vez que saio à rua - é um experimento de vidas intenso -sou mais feliz se sou menos múltipla escolha e mais somatória...É mais inteligente, creio, aprender que a vida é acúmulo e não exclusão.Enfim.
(toda mulher é meio leila diniz?)

domingo, 15 de abril de 2012

Da boca, da carne, da vida e do medo de viver.



Sabe aquelas lavagens que preparam a casa para uma grande festa? Quem morou no interior e tem mãe exigente, sabe bem o que é isso. Véspera de Natal, São João ou mesmo o temido "Final de semana daquela grande faxina!". Enfim. Eu sei o que é isso. Lavar tudo. Da garagem ao quintal. Vassoura. Sabão. E água. Principalmente água. Água revestindo tudo. Passando de um cômodo para o outro("Corre, coloca o pano, par anão entrar no quarto que já está limpo!"). Eu gostava dessas grandes faxinas porque elas me permitiam deslizar na água. Brincar de super-heróina ou de grande navegadora ou, ainda, de pessoa muito limpa.
Na minha casa sempre tivemos muuuita coisa com limpeza.Havia sempre uma preocupação para não haver teias de aranha ou resquícios de confusão. Risos. Platônica. Minha formação foi toda maniqueísta. Havia o bem e havia o mal. Havia o alma e o corpo. Havia a ordem e a desordem. Havia o certo e o errado. Esse negócio de holismo, eu só vim saber dele quando adolescente. Ouvia Raul e dizia: peraí, então..as coisas não são assim..tão bonitinhas, perfeitinhas, dividinhas?? Eu estudei em colégio de freiras mas posso pecar? Loucura isso.Risos.Vejo que não estou sozinha nessa de me perceber falha e...de não sofrer com isso.
Eu relutei muito em escrever este texto, ele está engasgado em minha garganta e em meus neurônios há muito tempo, que nem sei datar. A catarse de hoje refere-se aos tabus nossos de cada dia. Não pretendo fazer análises de cunho psicológico e/ou sociológico (Afastai-me destes tortuosos caminhos São Freud e São Marx!), pretendo apenas exorcizar um pouco inquietações bem antigas.
Buceta. Pica. Cu./ Estelionato.Extorsão.Tráfico de influências./ Máfia dos atletas. Juiz comprado. Cartolas./ Ressureição da carne. Remissão dos pecados. Vida eterna./ Não, a ideia não é reinventar o "Circuito Fechado" de Ricardo Ramos. Tampouco explorar o meu lado dadaísta. "Sexo, futebol, política e religião não se discutem",quantas vezes você já ouviu essa cantiga de ninar? Eu, pra variar, tenho um objeção. Aliás, várias. No meu corpo pulsam objeções. Tudo se discute. Às vezes não tanto como deveria. Ou não da maneira que deveria ser discutido. Mas tudo se discute.
E...se a liberdade me faz companhia...eu quero falar sobre o suicídio. É tabu, né? Aquela coisa interditada, que todo mundo sabe que existe na sociedade mas que, quando acon tece, baixa o tom de voz para falar, numa mistura de respeito e medo. Seríamos mais felizes se não existessem tabus? Seríamos melhores se os desejos não fossem interditados? Acho que não sei, não quero saber e quase tenho raiva de quem sabe. O que eu sei é que eu sempre quis morrer. Sempre desejei, imaginei, calculei, retratei em minha mente a minha morte. Isso é coisa de adolescente, né? Você, leitor amigo, pode se rebelar e até concluir: então a depressão é sinônimo de retorno à adolescência? Olha, eu tô ciente. Machado de Assis não vem puxar o meu pé se o parafraseio. Cada um pensa por si e todo mundo copia todo mundo. Minha adolescência permanece, parece. Sabe aquel poema de Martha Medeiros:

Sou uma mulher madura
Que às vezes anda de balanço
Sou uma criança insegura
Que às vezes usa salto alto
Sou uma mulher que balança
Sou uma criança que atura

Então.Sou assim. Alma de criança, talvez, né Camilinha? Alma de gente que não entende sempre as coisas, ou melhor, que não aceita sempre as coisas como elas são e que, quer, sempre, perguntar. Por quê? Por que benvindo e não bem-vindo? Por que saudade em vez de partillha? Por que máscaras sociais em vez de verdade? Por que desigualdade social e não o reino de Deus na Terra? Por que vestibular em vez de aprendizagem? Por que, caralho, Rede Globo em vez de TV Cultura? Enfim. Perguntas. Por que querer morrer em vez de querer viver?
Eu não sei. Ainda bem que não estou diante de nenhum banca de concurso, hein? Risos. Eu não sei a resposta. Só sei que sempre não quis viver. Sempre achei que Deus poderia, a qualquer momento, trocar a minha vida pela de um doente terminal. Dar o meu sopro par aquem deseje viver. Estranho. Difícil assumir isso. Sempre desejei viver intensamente. Corrigindo: sempre vivi intensamente. Meu sorriso é o maior. mInhas horas demoram a passar. Minha vida tem mil trilhas sonoras e em todas eu me entorpeço e peço a Deus desculpa, mas ... eu quero é sentir a fragância do exagero. Da dor e do amor. Com isso não quero me postular poeta, Cazuza. Apenas quero dizer da emergência do sentir. Entranhas remexidas. Que cor tem a vida? Mesmo se for cinza, tonalidades incendiárias tocam minhas coxas, defloram meu cérebro e a(s)cendem todas as minhas pupilas.
Ok. Então...a contradição, né? Como querer morrer se gosta tanto da vida? Lidar com o corpo é complicado. Eu demorei para descobrir a imbricação entre corpo e alma. Eu achava que alma ia pro céu e corpo apodrecia e...por isso...não precisava cuidar do corpo. Tá. Parece a maior besteira ou coisa mais óbvia do mundo, mas...eu não sabia!! Eu não sabia dessa necessidade de exercitar o corpo, de ver o corpo, de tocar o corpo. E não estou falando de masturbação ou de se olhar no espelho. Eu estou falando é de valorizar o corpo, sabe? Eu continuo nesse caminho. Considerando todas as dimensões: religiosa, espiritulaista, hedonista, socialista...todo mundo prega a valorização disso aqui.Traduzindo: o respeito a isso aqui que se chama..corpo. Simples assim. Risos.
Eu ainda continuo pensando em suicídio às vezes. Faca. Envenamento. Queda. Tiro. Eu só não penso em água, sabe? Eu não quero me afogar não. Não quero ter a impressão de posso querer respirar e de que não vou conseguir. Eu não vou me suicidar. Porque minha mãe sofreria; porque minha vida é dádiva divina; porque ainda há muito o que se fazer, ouvir, pensar e..principalmente... porque estar com depressão não é o fim do mundo. Depressão não é o fim da vida. Porque eu sou gente, sabe? Gente que falha e acerta horrores. Gente que tem milhões de medos e incertezas. E gente que tem vontades. Gente que respira e anseia por existência smúltiplas e felizes pra mim e pra todo mundo. Pra quem gosto e pra quem não gosto. Pra quem gosta e pra quem não gosta de mim.
É isso. Que venham as enxurradas. Eu gosto da água e estou pronta para me sentir nem suja, nem limpa, apenas viva. É. É isso. Um feliz domingo ensolarado pra tod@s.

P.S.: Essa ilusta de Laerte aí em cima..olha..acho q eu virava crossdresser se el@ quisesse casar comigo... risos.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Qual o meu tamanho, Fernando Pessoa?




Chego eu na farmácia pra comprar meu lindo prozac mensal. O moço, tooodo solícito, traz as caixas e diz: "-A sra. está com ansiedade, é?". Eu, toda, verdadeira e paciente, balanço os olhos, encaro-o na barriga e digo,com o ar mais ameaçador q posso:" -Dentre outras coisas, dentre outras coisas...". Ele, não satisfeito, replica: "-Temos isso aqui também, ó!É ótimo, para stress, depressão, ansiedade, cólica, dificuldade de concentração..." Eu, atônita, o vejo erguer em minha direção uma caixa de vitaminas com nome estrambólico em inglês. Olho-a sem muito prazer e percebo que existe tb uma versão masculina (numseiquelá man) da panaceia q me é descaradamente oferecida. Enquanto engulo a minha vontade de perguntar se ele é louco, por me querer vender algo assim, na maior caradepau, digo, por fim:" -Ok, tá." Ele, por incrível que pareça, não desiste e logo acentua os poderes milagrosos da tal vitamina: "-É muito boa!! Sai muito, viu?". É obvio q fiquei uns segundos meio q estarrecida, meio q indignada, meio q cansada diante daquele entusiasmo todo. Me senti em meio a um comercial das Facas Ginsu :"Não, não desligue a TV!! Na compra dessas maravilhosas facas, você ainda levará, totalmente de graça, este maravilhoso...", etc e tal. E assim é a vida. Saio da farmácia pensando se eu tenho cara de louca. Ou de ingênua. Ou de nada. Cara de paisagem. Será que aquele atendente me tratou como a Indústria Farmacêutica me trata? Com cara de paisagem, que nada faz, diz ou pensa?
Logo comecei a pensar tb no meu corpo, em como eu o trato e em como a sociedade ("em q estou inserida!!" chavão básico das redações de vestibular!risos)o trata. Afinal, pra que servem cabeça, tronco e membros? Aliás, "servem"? De quantas interdições eu já me libertei? Com quantas rasuras me contruí? "No princípio era o Verbo.E o verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. (...) E o verbo se fez carne e habitou entre nós". (Jo 1, 1-3;14).São com esses verbos, adjetivos, pronomes, numerais, interjeições e todas as outras classes "gramaticais" que traço a minha corporeidade e defino a minha existência nesse mundão grande de meu deus. Ponto. É isso mesmo? Deus presente em mim? É disso que quero falar? Da gratidão em não me reconhecer como uma máquina que atende a todos os comandos, sejam eles imbecis ou enfadonhos ou inúteis? É.É disso.Cê tá ouvindo, seu atendente da farmácia; dona televisão; seu sistema educacional alienante; sua quadrilha de politiqueiros indignos e mais uma porrada de gente que insite em querer tratar o meu corpo como receptáculo de boas intenções, daquelas que o inferno está cheio? Risos. O texto está tomando um tom bem religioso, bem revoltado e bem adolescente. Risos. Sou católica.Tenho inquietações milhões. E..por mais q eu sofra com essa verdade, qdo lidamos com paixões, somos sempre adolescentes(minha amiga Raquel, psicóloga "das boa e percurada" é sábia!!!. Nesse caso, minha paixão do dia é o meu corpo. Fibras e células e(x)tendidas. Qual o meu tamanho, Fernando Pessoa? Xô te dizer: no varal coloquei os meus sonhos, mas num pense vc que eles ficarão lá, largadinhos, não!! Eu quero ter /ser um corpo sadio (mens sana in corpore sano!) e cônscio de todas as divindades que nele habitam. E, principalmente, quero que os meus sonhos não esbarrem em um balcão de farmácia. Quero os meus sonhos no meu corpo e que ele...ah..que ele, Chico Buarque de Holanda, seja testemunha do bem que sonhar me faz. A propósito, feliz dia do beijo pra todo mundo!!


P.S.:Lá no início,Dahmer, o cartunista mais lindo do Brasil. Logo acima,minha fantasia de Eva (e não Betty Boop!!!) nas ruas do lindo Carnaval de Olinda.

terça-feira, 27 de março de 2012

O bichinho Tamagotchi e o banheiro do INSS.




Essa semana lembrei do tamagotchi. Década de 90? 2000? Nem sei...só lembro que era uma obsessão.Tooooodo mundo tinha que ter esse animalzinho de estimação virtual, muito útil para exercer a nossa condição materna sem maiores preocupações. Eu nunca tive, ma slembro: as pessoas o alimentavam, colocavam-no pra dormir, davam-lhe banho, coisas bem loucas, porque tinha um lance dele reclamar da pouca atenção recebida. E, lógico, as pessoas ficavam na paranoia de não decepcionar o seu tamagotchi, carregando-o pra tudo qto era canto e, volta e meia, interrompendo as atividades para ver o que o bichinho "queria". É. Eu não tive tamagotchi mas, pra variar...srrs... conheço essa sensação do apego. Essa sensação de ser ligada a algo - que pode ser uma roupa, uma foto ou uma carta; a uma situação - um momento com os amigos, uma aula bem dada, aquele encontro especial, a tão falada "primeira vez"; ou ainda, a sensação de ser ligada a uma pessoa - alguém da família,um antigo ou atual namorado, um colega de trabalho, um professor. Em todas essas categorias caberia o adjetivo "marcante". Se passado um tempo, ainda há vínculo, é porque nos marcou de alguma maneira, né? Ok... e Cristóvaão Colombo descobriu a América e Pedro Álvares Cabral, o Brasil. Hoje estou cheia de obviedades. Cheia, no sentido de repleta, transbordando e cheia no sentido de "estar de saco cheio". Minhas não-novidades do dia dizem respeito exatamente a uns tamagotchis imaginários que não me faziam muito bem. Coloquei todos para passear. Aliás, para ser mais exata, dei um chute na bunda de cada um deles e disse: "Filho,vai cuidar de sua vida, porque a mamãe aqui já cansou de te criar, tá?". Bem..me senti o máximo ao fazer isso. Adulta até a última instância, mas..hj veio o luto. Porra. Juro que eu não contava com o luto pós-exclusão dos meus fantasminhas nada camaradas.Nunca tive um tamagotchi, nunca pari ninguém, não sabia que doia tanto largar o que se ama, ainda que esse amor lhe faça mal. Ainda que vc reconheça q tal situação é insustentável...dói, viu? E outra, passar pelo luto..é babado..risos. Babado por cima de babado!! Sabe o que é vc sentir um desejo enorme de estar com alguém e, ao mesmo tempo, um certeza enorme de que deve deixar esse alguém? (Eita, q hj sou msm a rainha do senso comum, perdoem-me, please!)Enfim, não estou falando de homem. Muito menos de mulher. Risos."A única palavra que me devora", Fagner..é aquela que o meu coração diz a respeito da minha profissão. Pô!! De novo? lá vem ela falr sobre "o ato de ser professora". Paciência, aê, gente, Este é um blog criaod por uma professora que está depressiva e..como eu vou dizer..com um certo medo da sala de aula. MEdo não seria a palvra correta. Estou enlutada. Embalei todas as minhas crenças e não coloquei na máquina de lavar, TOm Zé! Também não escondi embaixo do guarda-roupa. Escancarei tudo. Coloquei pra fora tudo o que me angustiava em relação à escola e (Acho) q, por isso, surtei um pouquinho. O caso é que a sensação do luto é muito interessante. Se, por um lado, lhe traz a presença devastadora da morte, por outro lado, lhe traz a leveza do desconhecido. É assim que estou me sentindo. Mortificada em vários aspectos. E, ao mesmo tempo, ouvindo novas vidinhas batendo em minhas janelas. Por enquanto, bem de leve, devo admitir. Quando estamso muito acostumados com uma situação antiga...suspiro..é difícil entender aquela situação d eum outro jeito ou, ainda, aceitar que ela não existe mais. Hoje, os milhões de tamagotchis abandonados por aí, além de quinquilharias sem nenhum valor, são símbolo. Testemunham algo que fomos, né? Um pedacinho da gente. tà. Ok. No caso de "ser professora"..um pedação! Risos. Eu senti bem isso na semana passada, quando fui ao INSS fazer a perícia médica.Eu tava bem. Primeiro eu preciso dizer isso. Apesar de todo terrorismo ("o povo é grosso", "eles são treinados para lhe desestabilizar", reze bastante, etc e tal), eu sabia que não estava ali forjando nada. Eu fui pedir afastamento médico porque realmente não me sinto em condições para estar em sala de aula. Isso tá muito bem resolvido em minha cabeça. Agora..uma coisa é uma coisa..outra coisa é outra coisa.Eu nunca pensei que fosse usar uma frase de faustão para explica rum sentimento meu, mas..sabe quando passa na cabeça o filme de sua vida? Risos. Passou, véi. Estava eu lá..esperando a médica me atender e dei de cara com essa imagem, aí.


Enfim.impossível não comentar! NO banheiro do INSS, a identificação do banheiro masculino é ...lacunada...O homem incompleto. O homem que perde um pouco de si- seja uma perna, seja um dente, seja um olho, seja o equilíbrio mental. O homem do INSS é o homem fragmentado. Em luto constante. Sabe o que ele faz todo dia? Arruma o quarto do filho que já morreu e..sim..chico..deixa eu te parafrasear pq eu te amo msms..ele fica no cais, esperando o barco q evita atracar. Assim eu me senti quando, em frente àquela médica fui rememorando o meu estado.Quando, em frente àquele moço no balcão, fui recebendo os papéis que murmuravam: "Constatação de incapacidade laborativa" . Eu lia, mas não via, sabe? Isso é o que eu sinto..porém...eu lembrei, droga. Lembrei de q dese q me entendo por gente ..sou professora!!!(Permitam-me, terceiro capítulo da novela "Obviedades ululantes"). Traduzindo...lembrei da minha formação acadêmica aé então..de minha militânci ano movimento estudantil...das questões raciais, q são minah segunda casa...do "pau" que eu dei pra conseguir fazer o mestrado indo toda semana para Salvador...de dias, meses e ano sde investimento financeiro, físico e emocional nesse negócio chamado educação...das muitas experiências e aprendizados ocorridos em sala de aula e/ou com os alunos...enfim..lembrei de como esta condição de professora -que hoje eu considero ter me adoecido e quero tratar como um tamagotchizinho que já me fez bem, mas que devo descartar - foi/é (eu canto em português errado, acho q o imperfeito não participa do passado..) essencial para o meu amadurecimento e para a minha constituição enquanto gente. É certo que qualquer profissão me proporcionaria amadurecimento, contudo...também é certo que sou mais gente porque tenho/tive a oportunidade d econviver com muitas pessoas e situações raras. A singularidade de tantos é o qeu foi costurando a minha singularida..sem dúvida. Sessão nostalgia, hein? FM, meai-noite, aquela voz do locutor q se esforça em fazer o tipo româmtico, repertório internacional...ò!"pópará!" Suspiro. Eu estou optando por isso. Por enquanto eu quero viver esse luto, me desapegar dessas coisas, mas...a cada dia me convenço: preciso fazer isso sem sofrimento...sem choro nem renger de dentes! Risos.Sendo assim, evoco Manuel Bandeira: EU NÃO QUERO MAIS SABER DO LUTO QUE NÃO SEJA LIBERTAÇÃO.Tenho dito.

terça-feira, 20 de março de 2012

“Eu só gosto de educação sexual...”


Sabe aqueles filmes que começam com a pessoa se descrevendo? A câmera enquadra alguns espaços que a traduzem – cômodos da casa que documentam os livros preferidos; um disco especial; algumas roupas cuidadosamente largadas pela cama; uma geral na geladeira ou despensa – e, ao fundo, apenas a voz da narradora: Bem, meu nome é Larissa Santos Pereira, tenho 31 anos, sou de Ipiaú, amo chocolate, fotografia, música e viagens e ...( a voz assume a hesitação da alma...) ...sou professora. É essa é a minha profissão. Professora. Fiz Letras e me especializei no trabalho com a disciplina Redação. Risos. Ler-escrever é a minha paixão! Eu poderia me imaginar um único dia sem estar em contato com a grafia viva? Para mim, a palavra “palavra” é toda vivinha e meu envolvimento com as pessoas é mediado por elas. Mais do que as pessoas, são as palavras que me encantam. Mesmo sem chave, Drummond, eu estou aqui, submersa no reino delas. Legal, né? Só tem um “porém”. Unzinho só, que é para não perder o costume de me contrariar. A adversativa, nesse caso, é oriunda de uma profunda crise profissional. Difícil falar disso. Confuso ainda, dentro de mim. Daniela Carvalho, uma amiga querida, surgiu esses dias com uma distinção interessante: “Estar encantada não é estar apaixonada. Uma coisa é diferente da outra”. Acho que ela quer hierarquizar os sentimentos, né? É sobre isso que eu tenho me perguntado quando penso em minha condição de professora. Perdi a paixão ou apenas estou desencantada? Sei não, mas acho que essa conceituação danielense é uma furada. Paixão e encanto tem tudo a ver. Perceber que, em algum aspecto, determinada aprendizagem foi libertadora para o aluno traz para mim uma emoção absurda. Eu encaro a minha profissão como uma possibilidade de revolução pessoal cotidiana. Putaquepariu! Quanta pretensão, hein? Risos. Explico-me: o conhecimento traz poder. Essa talvez seja a máxima mais simplória e mais complexa do mundo. Nem todo conhecimento traz poder, mas é inquestionável a sua possibilidade de mudança. Inquestionável. É por isso que está me doendo tanto ser professora. Onde estão as mudanças? Cadê o produto do meu trabalho? Afinal, para que serve uma escola hoje? Eu não quero trabalhar em uma escola que tenha como propósito aprovar o maior número possível de alunos no Vestibular. Simples assim. E ... (suspiro) não estou falando isso em relação às escolas específicas em que trabalho ou trabalhei. Apenas não gostaria ter que dizer para o meu aluno que ele deve estudar Redação porque essa é uma matéria importante no Vestibular, entende? Poxa, eu sei que o meu tecido epidérmico é todo forrado de utopias, mas...eu realmente queria poder trabalhar em um modelo de escola em que ler e escrever fossem considerados paixões. Devo estar pedindo demais. Devo ter assistido muita sessão da tarde na Rede Bobo de televisão. Enfim. Devo ser uma tola. Não estou aqui desconsiderando o papel que um curso universitário tem hoje para a vida profissional de qualquer indivíduo. Não estou defendendo que todos deveríamos virar hippies e sair por aí criando comunidades alternativas e pregando a paz e o amor. Não estou insinuando que a anarquia (oi, oi, garotos podres!!) seria/ terá sido o formato ideal. Autogestão? Eu quero, tão somente, uma escola em que o conhecimento seja o mais importante. Conhecer porque é bom, sabe? Conhecer porque esse ato cria condições para que eu seja mais gente, mais humana, mais solidária, mais cristã (na acepção que eu entendo do cristianismo, viu, possíveis fundamentalistas?). Quando escrevo isso aqui fico me sentindo ainda mais tola. Eu que falo tanto para os meus alunos da necessidade de se utilizar argumentos fundamentados estarei aqui sendo piegas? Poxa, então ela é uma mulher de 31 anos e ainda não entendeu o que é o capitalismo selvagem? Olha, eu tenho perguntas a perder de vista, mas uma pequenina certeza se aconchega em meu coração: mesmo tendo passado no vestibular e sendo responsável, cristã convicta, cidadã modelo e burguesa padrão (Renato Russo, eu já disse hoje que te amo?)... mesmo assim...eu não sou feliz nesse modelo de escola em que as coisas parecem cruelmente invertidas. E felicidade pareceu agora algo tão dispensável, tão pouco prático. Risos. Ah..então ela quer ser feliz! Pirou, né? Tanto a querer e ela se comportando como uma menininha interiorana. Será que também acredita em papai noel e em príncipe encantado? Olha...(suspiro²), tenho consciência das necessidades imediatas cotidianas e de que, depois dos 30, ninguém mais tenho direito a ser um ingênuo militante (é preciso se adaptar, né, Titãs?), mas não. A minha receita de sucesso não é o número de alunos que conseguem decorar o que vai cair em uma prova que – não é segredo para ninguém! – não prova que fulano é mais inteligente do que sicrano. Para mim, a evidência latente trazida pelo vestibular é a de que vivemos em uma sociedade totalmente desigual, em que o número de vagas é inferior ao número de candidatos. Apenas isso. Enfim, eu não sei ainda o que vai acontecer comigo, o que farei com essa autobiografia tão bonitinha e tão ordinária, mas... ou muda essa escola ou mudo eu. Sem mais, Meritíssimo.

P.S.:Ilustra linda,q chamo de "A cobra" do grande Sica.

Será a depressão um outro nome para as grandes saudades?


Saudades atravessando os poros. É essa a sensação. Transfusão de saudades a todo instante. Saudades no plural, grafadas com letras maiúsculas. De quê? Essa é a pergunta que não quer calar, meus senhores. Minhas saudades são múltiplas. Déjà vus se acotovelam impacientes diante de minha memória. É a saudade daquele dia, daquela viagem, daquele cheiro, daquele momento que parecia já esquecido mas – ô danado! – vai embora não. O meu pensamento emoldura sensações das mais variadas. Assisti ao documentário sobre Arnaldo Baptista. Loki. Louco? Qual é o fio que contorna a minha sanidade? Uma definição não sei de quem lá no documentário: é como se o mundo estivesse te atravessando. É isso o que sinto. Como se as partículas dos fatos cotidianos fossem bem maleáveis e o meu corpo todo furadinho, cheio de poros sequiosos do mundo. Eu não queria sentir tanto. Não. Mas..porra..não é a toa que sou a moça da Análise de Discurso(AD), né? Nunca vou me esquecer de Eni Orlandi lá naquele auditório apertadinho da UESB dizendo pra todo mundo: “...foi então que eu percebi...a AD trabalha com os sentidos...”. Risos. É isso. Trabalhar com os sentidos significa estar exposta a eles. Sentir os sentidos. Redundância, o caralho. As pessoas de câncer sentem demais? Alguns indivíduos nascem com tendência à melancolia/introspecção? Essas coisas advêm da genética? Esse é um comportamento típico de um tipo 4 no Eneagrama? Qual justificativa escolher para explicar essa eterna sensação de ausência que me totaliza? É uma fragmentação absurda sabe? Só a título de informação...acho que o tal do sujeito descentrado, existe mesmo, viu Pêcheux? Você está me ouvindo? Ironia das grandes, né? Mas a depressão não veio junto com a dita pós-modernidade. Eu sei disso. Não veio. E a minha depressão? Eu não sei qual a carta que a responde, qual dispositivo secretíssimo foi acionado para que ela fosse senhora da minha vida como está sendo agora. Eu não sei muitas coisas do mundo. Mas, se o conhecer sempre foi algo que me seduziu, o desafio em conhecer, nem se fala. É por isso que eu estou te avisando, Dona Depressão – eu não sei como você se entranhou em mim, mas, de uma coisa você pode ter certeza: pra brigar contigo, eu faço coro a Lirinha, recitando Ororubá: “Árvore dos Encantados, tenho medo, mas estou aqui. Aqui, mãe. Aqui, meu pai. Em cima do medo, coragem”.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Sobre teias de aranha, peixes no mar e sala de aula.





Dia de faxina é sempre aquela coisa linda. Dia de limpeza, de botar tudo o que não presta pro espaço. Passei o final de semana tooodinho nessa vibe. Foi ótimo. Primeira grande faxina do ano. Oportunidade ímpar de arrumar, organizar, catalogar..as coisas da alma.Sim, pq digam o que disserem as feministas, não existe melhor momento para um auto-exílio (renato russo, i love you!) do que uma boa lavada de banheiro ou "varrição" de casa. Pois ontem eu estava nessa, pensando nos meus processos mentais, emocionais, corporais, sexuais, financeiros etc e tal, quando vejo essa cena aí de cima:poxa! Eu tinha deixado juntar teia de aranha na planta!!!! Que sacrilégio! Onde já se viu isso? É o cúmulo do abandono, né? Lóóógico q fiquei pensando na porrada de coisa dentro de mim q eu estava deixando abandonada, entregue às aranhas(Ok, sempre acho q esses textos tem um "q" de auto-ajuda, mas é inevitável). Lembrei de desejos adormecidos (aprender a dançar, aprender a nadar, aprender francês) e de telegramas nunca enviados, nem para Aracaju, muito menos para Alabama. Lembrei de me sentir mulher, para além da cabeça, tronco e membros. Ou melhor: lembrei das entranhas dessa cabeça, tronco e membros. Horrível imaginar tudo isso com teia de aranha, sabe? É assim que tava/tô me sentindo...Sem saber de pulso que pulsa ou de riso no coração. é. É assim mesmo. As coisas sem sentido, pererê, caixa de fósforo. Tristeza que vem lá do raio q o parta e se instala, bem felizinha dentro de mim.
Enfim..mais do que depressa, tirei as teias de aranha da plantinha e..bingo!!!..lembrei da visita a Porto de Galinhas.Poxa!! Que coisa absolutamente linda é a possibilidade de mergulhar e ver os peixinhos todos fofinhos te dizendo "vc não me pegaaa!!"". Nossa, surtei por completo com aquela água cristalina que me permitiu enxergar peixes sem aranhas e sem teias, beeeem libertos, bem ousados, cientes de uma admiração coletiva em torno deles, mas, nem por isso, metidos a nada. Aqueles peixes de Porto de Galinhas q eu conheci tem um aprofunda consciência de si. Eles vem, alimentam-se e saem... t-r-a-n-q-u-i-l-o-s. Essa me pareceu uma boa metáfora da vida, especialmente das relações amorosas e profissionais. Cazuza é lindo, mas ser sempre "exagerada, jogada aos seus pés" não faz bem a ninguém. Nem no namoro, casamento ou ficada. Nem no trabalho, emprego ou ocupação. Aqueles peixes é que são sábios. Põem limites no envolvimento. É como se dissessem:olha, eu te faço feliz, mas se tu me pega, sofremos eu e tu. Hum...Isso de ser responsável por quem cativas é bem pequeno príncipe, mas como não sou nenhuma candidata a miss tentando provar minha suposta intelectualidade, tenho todo o direito de ser piegas nas citações literárias, né?
E..e por falar piequice e breguice...Vinícius: "E por falar em saudade, por onde anda você?" Ok,ODEIO admitir isso, mas estou sentindo uma falta do caralho da sala de aula, dos meus alunos, das situações de aprendizagem, de sonhar e ver a porra do olho do menino brilhando qunado entendeu algo novo. Sim, a novidade vem da praia, com cheiro e rabo de sereia, hipnotizando a todo mundo...Eu estou fazendo um esforço enorme, uma verdadeira catequese para me desapaixonar da condição de professora e me convencer que não presto para isso, mas, mas, mas...eu gosto da novidade. Eu gosto do novo que a escola me oportuniza, mesmo mergulhada na sujeira desse sistema pobre de recursos e intenções.É isso. A maresia me chama. O canto da sereia. Mas, ó, por hora, tô resistindo..eu preciso de um tempo para descansar, achar as teias, jogá-las todas fora, ver novos peixinhos para só depois bater um papo com essa sereia da educação. Suspiro..na outra encarnação, vou negociar com Deus, eu quero vir é de flor ou gato, que ser gente dá trabalho demais...